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Notícia » 17/05/2021

AGRONEGÓCIO E MINERAÇÃO LIDERAM INVESTIMENTOS, AVANÇAM EM TECNOLOGIA E PUXAM OUTROS SETORES

Considerando cadeias de insumos, indústria e serviços ligados a produtos do campo, agropecuária já responde por 26,6% do PIB, diz USP

O agronegócio e a mineração, setores da  considerados primários, ganham força no país em meio à crise econômica provocada pela pandemia. Turbinados pelo câmbio favorável e pela alta da demanda por commodities nos países que se recuperam do baque da Covid-19, sobretudo a China, os dois segmentos aumentam seu peso no Produto Interno Bruto (PIB).

As evidências aparecem na forte alta das , no pagamento de , nos balanços financeiros das companhias do setor e na atração de investimentos.

Isso acontece em um momento de dificuldades para a indústria e os serviços, mais afetados pelas restrições sanitárias. O aumento do peso do setor primário é ruim para o país? Não necessariamente, dizem os economistas.

Se esses setores já foram tratados como básicos, com pouca capacidade de gerar emprego, tecnologia e oportunidades de desenvolvimento, essa realidade está mudando.

Especialistas lembram que há muito mais tecnologia no campo e nas minas, aumentando o valor agregado do que produzem e gerando benefícios econômicos em outras áreas.

— É cada vez mais tênue a linha entre o setor primário e a indústria e os serviços. Novas tecnologias ampliam impactos econômicos do agro e da mineração — diz o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Cláudio Considera, pesquisador do Ibre/FGV e responsável pelo Monitor do PIB, diz que o peso da agropecuária na economia passou de 6,8%, no primeiro trimestre de 2016, para 12,6% em igual período deste ano.

Já a participação do extrativismo mineral na economia passou de 0,9% para 3,5% do PIB na mesma comparação.

Setores atraem investimentos estrangeiros

Com metodologia mais abrangente, que inclui as cadeias de insumos, serviços e a indústria ligada aos produtos do campo, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq (USP) estima que o agronegócio respondeu por 26,6% do PIB do país no ano passado — o maior patamar desde 2004.

E este percentual deve crescer em 2021. Para se ter uma ideia do salto, em 2014 o setor representava 18,7% da economia.

— Em 2020, vimos o maior salto da participação do agro na série, de 20,5% do PIB, em 2019, para 26,6% — diz Nicole Rennó Castro, pesquisadora da Cepea-Esalq. — Em 2021, a participação do agronegócio no PIB deve avançar mais um pouco, não no mesmo ritmo do ano passado, tanto pela produção quanto pelo preço.

Dados do Banco Central compilados pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) indicam que a fatia da agropecuária e do extrativismo mineral no investimento estrangeiro no Brasil dobrou na última década. Representa agora mais de metade do ingresso das empresas.

“ Agropecuária e mineração podem se tornar um eixo para o crescimento da indústria do país. Não há uma dicotomia”

RAFAEL CAGNIN

economista do iedi

Os empréstimos intercompanhias destes setores passaram de 25,7% em 2010 para 54,9% no primeiro trimestre de 2021, quando se analisa os dados de forma ampla, incluindo os investimentos na indústria relacionada aos dois segmentos.

— O que a gente percebe é que o setor primário passou a ser o mais importante entre todos os setores, em detrimento do industrial, que inverteu de importância relativa com o setor primário dentro dos investimentos diretos. E quando olhamos com lupa, parte importante dele é decorrente do beneficiamento de produtos agrícolas — afirma Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet.

País precisa de estratégia para se beneficiar

Para Cagnin, do Iedi, para se beneficiar de fato do seu potencial extraordinário no campo e nas minas, o Brasil precisa ter uma estratégia clara:

— A indústria e os serviços podem crescer utilizando os avanços dos setores primários, onde o país tem uma vantagem competitiva. O desafio é ampliar a industrialização dos produtos destes setores, pois é isso que gera valor agregado e difunde os ganhos econômicos para todo o país.

O economista acrescenta: — Agropecuária e mineração podem se tornar um eixo para o crescimento da indústria do país. Não há uma dicotomia, há uma convergência.

Arrecadação da mineração mostra aquecimento

Somente nos três primeiros meses de 2021, os impostos decorrentes da mineração cresceram 101%, um indicativo de aceleração do setor, após alta de 36% em 2020.

O minério de ferro voltará ao topo da pauta de exportações do país este ano, retomando o lugar perdido para a soja em 2015, prevê José Augusto de Castro, presidente da Associação de  Exterior do Brasil (AEB):

— Até abril, a soja ainda esteve à frente, mas quando acabar o embarque, o minério a ultrapassará.

De janeiro a abril, as exportações de soja atingiram US$ 13,4 bilhões, alta de 22,4%. No mesmo período, as de minério de ferro somaram US$ 12,6 bilhões, valor 103,6% superior ao registrado nos quatro primeiros meses de 2020.

A bonança estimulou a recente abertura de capital da CSN Mineração, com ganho líquido de R$ 2,5 bilhões para a siderúrgica, e se refletiu no lucro de US$ 5,5 bilhões da Vale no primeiro trimestre, alta de mais de 2.000%. A alta das ações consolidou a mineradora como a empresa mais valiosa da América Latina.

Os investimentos do setor mineral devem crescer 110% entre 2021 e 2025, na comparação com o ciclo 2017-2020. Estimulam os projetos o alto potencial, já que apenas 3% do território do país foram mapeados.

— A mineração brasileira passa por mais um de seus ciclos positivos, o que é bom para incrementar seus esforços voltados a aperfeiçoar indicadores de sustentabilidade e de segurança — afirma Flávio Ottoni Penido, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

Vendas e dólar em alta

Coordenador do Núcleo Econômico da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Renato Conchon, destaca que, enquanto o PIB do Brasil encolheu 1,2% na última década, com uma queda na indústria de 12,8%, a atividade agropecuária expandiu 25,4%.

— O setor agropecuário vem dando bons resultados e a expectativa é que isso continue. O Brasil fez investimentos tecnológicos para aumentar a produtividade no campo, o que alavanca a produção — disse o coordenador da CNA.

Riscos ambientais

Desafios climáticos e ambientais estão entre os principais riscos, vide a seca mais severa no Centro-Sul do país este ano e os desastres recentes com barragens da Vale. A resposta a essas vulnerabilidades, por outro lado, passa por mais investimentos em tecnologia, o que gera oportunidades, principalmente no setor de serviços.

Incidentes diplomáticos com a China e eventuais boicotes movidos pelo descontentamento internacional com a gestão do meio ambiente no Brasil também podem atrapalhar.

Sem esses obstáculos, José Carlos O´Farrill Vannini Hausknecht, sócio da MB Agro Consultoria, prevê ao menos três boas safras para o setor, devido à retomada econômica e a fenômenos como a segunda onda da peste suína, que ameaça o plantel chinês, com dólar alto:

— Talvez não seja um ciclo tão longo como nos anos 2000, mas com uma situação inédita: agora, por questões fiscais e políticas, a entrada extra de dólares não está derrubando as cotações. Há preços elevados, safra grande e dólar valorizado. A rentabilidade dos produtores está em patamar elevadíssimo.

Fonte: O Globo

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