Principais Tipos de Implementos usados no Transporte de Cargas Indivisíveis
O transporte de cargas indivisíveis, que por sua natureza não podem ser fracionadas, exige veículos e equipamentos altamente especializados para garantir a segurança viária e a integridade da infraestrutura rodoviária. Nesses casos, quando o veículo ou a combinação de veículos mais a carga excede os limites regulamentares de peso e/ou dimensões estabelecidos pelo CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito), é obrigatória a obtenção de uma Autorização Especial de Trânsito (AET).
As "pranchas carrega tudo" são veículos essenciais para essa modalidade de transporte, e sua complexidade varia conforme a carga a ser transportada. Uma "prancha carrega tudo" é um veículo rebocado, dotado de diferentes tipos de suspensão – mecânica, pneumática, hidropneumática ou hidráulica (ou mista) – e projetado especificamente para o transporte de cargas indivisíveis. A escolha do tipo de prancha e sua configuração depende diretamente das dimensões e do peso da carga, bem como das condições do percurso. O dimensionamento do conjunto transportador deve sempre buscar reduzir ao máximo os excessos dimensionais (largura, altura, comprimento) e garantir uma distribuição de peso adequada por eixo, respeitando os limites técnicos do fabricante.
Os principais tipos de pranchas carrega tudo e outros equipamentos especializados envolvidos são:
1. Pranchas Carrega Tudo (Tipos Específicos): São veículos rebocados, com um ou mais eixos, que apresentam estrutura e estado de conservação compatíveis com a força de tração exigida e capacidade de carga. Para o transporte de cargas com altura, largura ou comprimentos acima dos limites permitidos, deve-se dar preferência a veículos que reduzam ao máximo as dimensões finais do conjunto transportador, bem como os excessos longitudinais e laterais.
? Prancha Colheitadeira: Embora a norma não defina uma "prancha colheitadeira" especificamente, "máquinas agrícolas" são classificadas como cargas indivisíveis que requerem veículos apropriados para transporte. Essas pranchas são configuradas para acomodar tais equipamentos, buscando evitar excessos.
? Prancha Extensível: O "semirreboque extensivo" é considerado um veículo especial. AETs para esse tipo de veículo podem ter validade por período de até um ano, desde que transitem com comprimento total de até 23,00 m, devido às suas particularidades de manobra. Esses veículos são ideais para cargas de grande comprimento, permitindo que a plataforma se ajuste ao tamanho do item transportado.
? Prancha Lagartixa: O "semirreboque conhecido com Lagartixa" é o que apresenta a menor altura de plataforma de carga, indicado para transporte de cargas com até 60t de peso e dimensão de altura elevada.
? Prancha Pescoço Removível: Implemento indicado para o transporte de máquinas e equipamentos auto-carregáveis, dotados de motorização própria;
? Prancha Plano ou Reta: Refere-se à configuração da plataforma de carga. "Plataforma" é um acessório utilizado no transporte de cargas indivisíveis superdimensionadas e superpesadas, com o objetivo de adequar o transporte a limitações de infraestrutura rodoviária, incluindo a redução da altura do conjunto transportador.
? Prancha Rebaixada: O dimensionamento do conjunto transportador busca "reduzir ao máximo" a "altura final". Pranchas rebaixadas são projetadas com essa finalidade.
? Prancha com Eixos Direcionais: "Eixos direcionais" são uma característica presente em "módulos hidráulicos" e em "veículos transportadores modulares auto propelidos". Para conjuntos com mais de quatro eixos, com suspensão mecânica, hidropneumática ou pneumática, os eixos adicionais devem ser "obrigatoriamente direcionais ou autodirecionais". Essa característica melhora a manobrabilidade do conjunto.
? Prancha com Eixos Hidráulicos: As "linhas de eixos" são veículos modulares dotados de suspensão e direção hidráulicas. A "prancha carrega tudo" pode ser equipada com suspensão hidráulica ou hidropneumática. Essa tecnologia permite uma distribuição mais eficiente da carga e maior adaptabilidade em terrenos irregulares.
2. Linhas de Eixo e Módulos Hidráulicos: A capacidade de transporte de cargas extremamente pesadas e superdimensionadas é viabilizada por sistemas modulares:
? Linhas de Eixo: São veículos modulares equipados com dois ou mais eixos pendulares, que possuem suspensão e direção hidráulicas. Cada linha de eixo pode ter múltiplos pneumáticos (quatro, oito, doze ou dezesseis) no mesmo alinhamento transversal ao chassi. Essa configuração permite uma distribuição uniforme da carga sobre a via, crucial para proteger o pavimento e as Obras de Arte Especiais (OAEs), como pontes e viadutos. Eixos com suspensão e direção hidráulica separados por mais de 2,40m são considerados eixos isolados para limite de peso e têm uso limitado a um máximo de 8 eixos por reboque/semirreboque.
? Módulos Hidráulicos: São veículos formados por duas ou mais linhas de eixos direcionais, fixadas no chassi da plataforma de carga. Eles possuem dispositivos próprios de acoplamento, permitindo que múltiplos módulos sejam conectados para formar um conjunto transportador conforme a necessidade da carga. Essa modularidade oferece grande flexibilidade na adaptação às dimensões e ao peso da carga, podendo atingir capacidades de peso e comprimento elevadíssimas.
? Módulos Hidráulicos com Power Booster (PB): Alguns módulos hidráulicos são equipados com tração hidrostática nas rodas. Isso lhes confere uma capacidade de tração adicional, podendo complementar os caminhões-tratores ou até mesmo operar autonomamente em certas situações, como para transpor pequenas distâncias ou em curvas de pequeno raio, sendo considerados veículos modulares autopropelidos.
3. Veículos Transportadores Modulares Autopropelidos (SPMT ou SPE): Representam a vanguarda no transporte de cargas superpesadas e superdimensionadas. São veículos modulares com plataforma de carga própria, suspensão e direção hidráulicas, e força motora que lhes permite circular por seus próprios meios. Eles são utilizados quando a complexidade e o peso da carga exigem o máximo de manobrabilidade e capacidade de carga, independentemente da necessidade de um caminhão-trator para propulsão.
4. Acessórios e Componentes Especializados: Além das estruturas básicas de reboques e módulos, o transporte de cargas indivisíveis frequentemente utiliza acessórios para otimizar a operação:
? Gôndolas e Vigas: São equipamentos empregados no transporte de cargas indivisíveis superdimensionadas e superpesadas. Permitem reduzir a altura total do conjunto transportador, aumentar a manobrabilidade e melhorar a distribuição de peso entre os eixos.
? Plataformas Intermediárias, Espaçadores e "Skid": Funcionam como acessórios para adequar o transporte a limitações de infraestrutura, auxiliando na distribuição de peso e na acomodação da carga.
? Dolies: São veículos auxiliares, também considerados cargas indivisíveis para efeito de norma, que distribuem o peso da carga uniformemente em todas as rodas, muitas vezes com suspensão hidráulica.
Considerações Operacionais Essenciais
O uso desses veículos complexos para transporte de cargas indivisíveis está sempre atrelado a requisitos rigorosos:
• Autorização Especial de Trânsito (AET): É o documento principal, de porte obrigatório, emitido pela autoridade de trânsito competente (federal ou estadual), autorizando o tráfego da carga excedente em um percurso e período específicos. O transportador ou beneficiário da AET deve exibi-la à fiscalização quando solicitado.
• Estudos de Viabilidade (EVE e EVG): Para cargas que excedem determinados limites de peso (ex: acima de 100 t-f ou 175 t) ou dimensões (ex: largura a partir de 3,80m, altura a partir de 5,50m, comprimento a partir de 30,0m), são necessários estudos de viabilidade estrutural (EVE) das OAEs e/ou estudos de viabilidade geométrica (EVG) do trajeto. Esses estudos, elaborados por engenheiros especializados, avaliam a capacidade da infraestrutura e as intervenções necessárias.
• Escolta: O transporte de cargas com dimensões ou peso excedentes frequentemente exige acompanhamento de escolta. A escolta pode ser credenciada (empresas especializadas e credenciadas pela Polícia Rodoviária Federal - PRF) ou oficial (Polícia Rodoviária Estadual ou Federal). O número de veículos de escolta e o tipo de acompanhamento dependem das características da carga e da rodovia. Motoristas de escolta credenciada devem ser licenciados pela PRF.
• Anuência de Tráfego: É um documento obrigatório emitido previamente à AET pelas Concessionárias de Rodovias, autorizando o trânsito de cargas especiais em trechos sob sua administração. A solicitação deve incluir um rotograma detalhado do trajeto.
• Responsabilidade: O transportador, o embarcador, e os engenheiros responsáveis pelos estudos de viabilidade são solidariamente responsáveis por quaisquer danos que o veículo ou a combinação de veículos causar à via, sua sinalização ou a terceiros, mesmo com a AET emitida. Eles também são responsáveis por infrações referentes aos dados fornecidos para a emissão da AET e pelo atendimento às disposições da portaria. Em caso de acidente ou pane mecânica, cabe ao beneficiário da AET sinalizar e remover a carga, restabelecendo o fluxo de tráfego no menor prazo possível.
Em suma, a escolha da prancha carrega tudo ideal e seus componentes é um processo complexo que envolve engenharia, logística e profundo conhecimento da legislação. A produtividade e a segurança nesse tipo de transporte nascem de um planejamento meticuloso e da observância rigorosa das normas, permitindo superar os desafios de transportar o que é grande demais para as estradas convencionais.